O Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) elaborado no primeiro governo Lula identifica que “é no interior do Sistema Nacional de Pós-Graduação que, basicamente, ocorre a atividade de pesquisa científica e tecnológica brasileira”. Apesar disso e do grande valor estratégico da atividade que desenvolvem, nossos pós-graduandos ainda não são valorizados em suas condições de trabalho e aprendizado como de fato mereceriam.
Impossibilitados de trabalhar por imposição das agências e pela árdua rotina de pesquisa, os estudantes-bolsistas são obrigados a (sobre)viver com os valores irrisórios de suas bolsas, devendo ainda torcer para que não ocorram os frequentes atrasos no pagamento das bolsas e auxílios. Taxas escolares e de bancada ainda são infelizmente tratadas pelas agências como um “privilégio” dos pós-graduandos, e não como um fator de melhoria da qualidade da formação pós-graduada.
Os pós-graduandos enfrentam ainda uma situação de permanente indefinição no que respeita ao vínculo empregatício – os bolsistas não conseguem comprovar tal vínculo na hora de buscar acesso ao crédito. As bolsistas da CAPES são praticamente proibidas de engravidar nessa fase da vida, pois não têm direito a qualquer prorrogação de prazo. Isso para não falar da questão da contribuição previdenciária. Quantos de nós, bolsistas de mestrado e de doutorado, não somos obrigados a ficar durante anos impedidos de realizar contribuição à Previdência?
Tendo em vista o sucateamento a que a universidade brasileira foi exposta durante os anos neoliberais, ainda hoje pós-graduandos são utilizados como quadros substitutos de docentes qualificados, dado que as vagas desses trabalhadores passaram muitos anos sem preenchimento pela completa ausência de concursos públicos. Além de fazer diminuir o campo de trabalho para jovens mestres e doutores, esse fenômeno reforça o tratamento dos estudantes de pós-graduação como mão-de-obra barata, encarregada de realizar, às vezes de forma disfarçada, tarefas especializadas, até mesmo de cunho administrativo e em grande medida não-remuneradas adequadamente, com horário de ponto e exigências desproporcionais às atividades acadêmicas. Essa situação de superexploração precisa ser enfrentada energicamente pelo nosso movimento, pois assume atualmente o formato de uma cultura bastante arraigada – “naturalizada” até – que parte das instâncias acadêmicas e manifesta-se até mesmo no comportamento quase “escravocrata” que muitos orientadores cultivam em relação a seus orientandos.
Para completar esse quadro de dificuldades, depois de passarmos anos submetidos a essas e outras provações ainda enfrentamos enormes dificuldades para encontrar no mercado de trabalho uma ocupação condizente com os recursos investidos em nossa formação. Situação lastimável para um país que precisa crescer e gerar renda e que, apesar disso, ainda vive de mãos cruzadas diante do triste espetáculo do desemprego de seus recursos humanos mais bem qualificados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário